Concerto de OntoArte no Auditorium Parco della Musica

O que acontece quando a alma dança com o Ser?

Descobriu-se no Auditorium Parco della Musica de Roma, onde Meneghetti coloca em cena, à distância de quase trinta anos, o seu poema metafísico “Quando a alma dançou Ser”, que foi apresentado a última vez em 1980, sempre em Roma. Obra original, autor da música e textos, em 4 de dezembro de 2007 às 21h na Sala Petrassi tocou piano, órgão e sintetizadores, acompanhado de um soprano e quatro bailarinos. “O quanto executado é um cômodo rascunho para que uma obra superior seja programada por capazes maestros, para deixar correr com novidade e significado nos teatros de prestígio”. Esta é a intenção do autor.

Tratou-se do único concerto na programação de Roma em 2007, e o evento obteve patrocínio do Município de Roma, da Região Lazio e da Província de Roma.

A característica destes concertos é que se escuta passivamente a sua música, não se compreende. O espectador é de fato chamado a participar da escuta, compreendendo a partir do próprio íntimo as harmonias espontâneas e as metáforas ricas de significado que se geram durante o concerto.  De certo modo Antonio Meneghetti utiliza também os espectadores, como se fossem instrumentos da própria música, fazendo-os ressonar de notas que somente a nível interior chega-se a apreciar.

Assim, descobre-se que a música possui um ritmo preciso, uma harmonia própria, melodias próprias que não pertencem aos contextos musicais aos quais estamos habituados, mas que se coligam a um contato metafísico que cada espectador é convidado a conviver em base à sua sensibilidade.

O evento do Auditorium constituiu-se, portanto, em uma ocasião única para saborear um autor que sugere novos horizontes, fruto de uma experiência que transpôs fronteiras em numerosos campos do saber e da vida. Perguntamos ao compositor o significado desta obra.

Não é fácil compreender o que substancialmente pretendo com este poema. Entre as tantas componentes da ética do humano existe aquela do caminho em direção à união mística. É uma dimensão que dá significância ao existente que entra na autêntica meditação, entendida como um saber ser dentro do mundo da vida.

O “princípio põe”. Princípio que não tem conotação nem filosófica, nem cultural, nem religiosa. É uma transcendência absoluta. Põe o fato de ser-aí. Em alguns dos propósitos do ser na existência, se desenvolve um caminho místico e, depois da perda que a existência envolve e perturba, é difícil identificar o valor de existir.

Com este poema quis representar a relação entre ser e existência: o corte preciso de lógica filosófica na imagem da união mística entre: 1. consciência e realidade, 2. ser e existência, 3. o Em Si ôntico individual e o ser total (ou deus) e a alma.

É a história perene das individuações e o seu princípio criador. Mas, sobretudo, é a história do Eu, que depois da tomada de consciência desenvolve-se da diáspora angustiante à comunhão transcendente”.

De fato, na primeira parte da coreografia da dança estática, os bailarinos parecem desorientados, a alma está desambientada na existência.

A alma busca no outro, no corpo, no ambiente, a fonte da sua procura. Sente um chamado, mas está confusa.

“Depois da perda existencial, há quem se reencontra, reconhece e alcança progressivamente a identidade da sua substancial natureza. E neste processo da própria identidade, encontra a identidade ponente, que o ser é, e deste contato e enveramento se eterniza o êxtase”.

A música, nesta parte do poema, está em busca de um novo ritmo, de uma nova harmonia, uma procura que é satisfeita por arpejos particularmente sugestivos. Está-se encontrando algo e tão logo parece de tê-lo encontrado ele foge. Mas aqueles instantes de graça transitória são sinais de que a alma está por reencontrar o seu caminho.

Na coreografia dos bailarinos se vislumbra agora uma direção, que se faz gradualmente mais nítida. A incerteza inicial cede lugar ao instinto vital e os corpos se fundem com crescente harmonia. A alma está reencontrando a estrada em direção ao Ser.

“Preferi imaginar a alma que depois da perda opera o seu projeto através de pequenas coisas e nesta operosidade de miricismo do quotidiano conforta e corrobora a própria identidade e nisso se encontra com o princípio ‘que põe’. Há  um diálogo que procura dar uma compreensão ao aparente mistério, a tudo o que é a angústia e a fragmentação”.

O sentido do balé é que é através da existência, através das suas contínuas tentativas e das suas aparentes contradições, é através da vida de todos os dias que se constrói a nossa perfeição original.

É do concreto da história do aqui e agora que se descobre novamente a dimensão metafísica da qual nascemos. “A alma chega, assim, a uma transcendência que dá paz, portanto se abre a união mística e a pequena criatura percebe dimensões insuspeitadas na sua consciência e na sua realidade. Entra em uníssono e vibra de prazer em total êxtase tudo o que os sentidos, a este ponto já muito distantes, indicavam através dos vários prazeres possíveis da carne, do mundo. Entra-se onde o êxtase é simplesmente amparado pela perfeição de um ato eterno fora de princípio e fora de percurso”.

A melodia se faz suave, angelical, infunde paz e serenidade em toda a platéia. É o momento do grande abraço.

A alma voltou ao Ser, o seu grande e único amor.

Reportagem publicada com o título “No Auditorium, a Alma dança com o Ser”, na revista Nova Ontopsicologia. n.2-2007/1-2008. Ano XXV. pp. 90-93

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