"A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental" de Edmund Husserl: uma apresentação

    Este trabalho tem por objetivo apresentar uma das mais importantes e intricadas obras do filósofo alemão Edmund Husserl: “A crise das ciências européias e a fenomenologia transcendental”, de 1936. Trata-se de uma obra significativa no desenvolvimento de Husserl por causa da elaboração do conceito de “mundo-da-vida” (Lebenswelt), mas, além disso, o texto contém uma dimensão adicional, igualmente inovadora: é a primeira publicação na qual Husserl toma expressamente uma posição sobre a história e na qual trata o problema da historicidade da filosofia, empreendendo longas análises “histórico-teleológicas”. Porém, antes de compreender porque é possível falar de uma crise das ciências, porque, para Husserl, a lógica, a matemática e a física ainda precisassem de um fundamento último, e, finalmente, porque, para ele, a filosofia seja a ciência capaz de prover este fundamento, o primeiro passo é compreender a sua noção de “ciência”. As análises histórico-teleológicas ocupam uma posição de destaque na última grande obra de Husserl, correspondendo ao próximo passo “lógico”: demonstrar “como”, historicamente, tenham-se construído os equívocos da filosofia e da ciência. Husserl analisa a teleologia ínsita no percurso histórico da filosofia na busca de um fundamento definitivo, o qual, não fora corretamente capturado pelas duas principais posições da filosofia moderna: o objetivismo fisicalista e o subjetivismo transcendental. Tal percurso conduz a filosofia à necessidade de uma tarefa específica, que é a fenomenologia. Esta é chamada a realizar o empreendimento de uma análise intencional da consciência constitutiva do mundo, a qual desvelará pela primeira vez como tema filosófico o “mundo-davida”, o qual surge como fundamento de todas as ciências: filosofia, lógica, matemática, ciências naturais etc. O trabalho faz então uma revisão de parte da vasta literatura acerca da noção de “mundo-da-vida”, seguindo as minuciosas considerações de alguns autores: segundo a perspectiva da evolução da idéia de “mundo” na obra de Husserl, segundo a constituição intersubjetiva do mundo e o relativismo histórico, mas também segundo a consideração do problema filosófico do “mundo-da-vida” enquanto um universo de ser e de verdade, apresentando, por fim, uma análise segundo a perspectiva da totalidade da vida intencional. No que se refere ao problema das “vias” para a redução fenomenológica transcendental, que ocupa a terceira parte da obra, analisamos apenas a via por meio da reconsideração do “mundo-da-vida” já dado, deixando a via da “psicologia” para uma investigação futura.

    AZEVEDO, E. L. “A crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental” de Edmund Husserl: uma apresentação. 2011. 126 p. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Programa de Pós-Graduação Filosofia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.