O valor ontológico do trabalho e o vínculo entre sujeitos e organizações

    Os estudos mais recentes apontam que o resgate do valor ontológico do trabalho é um preditor de qualidade de vida subjetiva, uma vez que, inseridos numa sociedade baseada no conhecimento, o trabalho representa não somente possibilidade de consumo e manutenção, mas um caminho para o autoconhecimento e o despertar de capacidades intelectivas e competências práticas. Para alcançar o valor ontológico do trabalho, é necessária uma formação integral do indivíduo, enquanto mente, corpo e sociedade. Neste sentido, este estudo recupera o sentido clássico de subjetividade em contraposição à opinião corrente de que se caminha cada vez mais para uma “máquinodependência” da subjetividade, ou seja, de que os conteúdos da subjetividade serão cada vez mais dependentes de uma infinidade de sistemas maquínicos (GUATTARI, 2008). Tendo uma abordagem ontológica do trabalho, a escola Ontopsicológica possui uma metodologia que tem por objetivo reportar a consciência do indivíduo ao seu potencial inato, ou seja, a lógica do ser na individualidade humana, permitindo deste modo que concretize existencialmente a autorrealização (MENEGHETTI, 2010). O presente estudo investiga como se dá a formação do indivíduo baseada nesta proposta e qual o significado que atribuem ao trabalho. Foram entrevistados 23 jovens entre 18 e 28 anos que fazem a formação em base à metodologia ontopsicológica e trabalham no Centro Internacional de Arte e Cultura Humanista Recanto Maestro no estado do Rio Grande do Sul, sendo 16 do sexo feminino e 7 do sexo masculino. Trata‐se de um estudo qualitativo que se vale do uso de entrevistas semi‐ estruturadas e a observação participativa dos jovens por um período de 2 meses. As informações colhidas são analisadas conforme a análise textual interpretativa proposta por Flores (1994). Os resultados mostraram que a metodologia empregada na formação visa ao desenvolvimento integral do indivíduo através do aculturamento segundo os princípios clássicos do humanismo, recuperando o sentido e a importância da subjetividade como critério para as escolhas e a tomada de decisões; o contato com a terra, as atividades manuais como recuperação da percepção organísmica; a formação baseada na construção de um estilo de vida que permita a manutenção da própria integridade; a intensa responsabilização do indivíduo. Os jovens apresentam vitalidade e um nível de atividade altos, realizando projetos e ações continuamente, com muita produtividade no trabalho. Eles vêem o trabalho como essencial para o próprio desenvolvimento, o que está fortemente ligado à identificação que possuem com a proposta e filosofia das empresas em que trabalham e com aquilo que realizam, ou seja, encontram um sentido naquilo que fazem e evidenciam os resultados que obtêm, não apenas profissionalmente, mas principalmente, pessoalmente. O estudo possibilitou observar que é possível realizar uma formação integral dos indivíduos recuperando o sentido da subjetividade como critério e, produzindo assim, não apenas bens materiais, mas também crescimento saudável e realização pessoal, profissional e social. Recupera‐se também o sentido do trabalho, não sendo mais visto como uma obrigação para suprir a necessidade de sobrevivência, mas como meio fundamental para a realização das próprias possibilidades e capacidades.

    MONTENEGRO, A. C. V.; MENDES, A.; SCHUTEL, S.  Formação humanista e sentido do trabalho. In: II CONGRESSO IBEROAMERICANO DE PSICOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES E DO TRABALHO, 2011, Florianópolis.