Formação de pedagogos: entre as estereotipias e as possibilidades criativas humanas

    Esta pesquisa parte dos estudos de Abraham (1987) que, em sua pesquisa longitudinal, por mais de dez anos, demonstrou que o professor possui estereotipias que precisam ser superadas. Tais estereotipias, relativas a profissão docente, dizem respeito a utilização do mecanismo de defesa do ego que é a transferência. Este mecanismo aparece nos docentes sob forma de que nada podem resolver e, por isso devem transferir seu poder para outro, hierarquicamente superior a sua posição. A estes cabe também, segundo a visão estereotipada, determinar o que está certo e o que não está certo. Esta estereotipia retira do professor a responsabilidade de assumir a solução de seus próprios problemas e também a desenvolver no aluno uma postura de responsabilidade. O termo responsabilidade remete à responder ao chamado em primeira pessoa. Assim, Rogers (2000) levanta a necessidade de considerar a pessoa do professor, para que, segundo Meneghetti (2006) este não construa uma pedagogia da compensação. A pesquisa, investiga estes elementos na prática da orientação dos estágios curriculares supervisionados do 8º semestre do curso de pedagogia, pois as orientações foram realizadas considerando estas premissas na formação de novos professores. A investigação é conduzida com os pressupostos da abordagem qualitativa e, está ainda em andamento. Desde o ano de 2009 foi realizado o acompanhando das orientações de estágio das turmas do último semestre do curso de pedagogia na disciplina de estágio curricular supervisionado dos anos iniciais do ensino fundamental. As turmas, em cada semestre foram acompanhadas diretamente, totalizando até agora, 40 acadêmicas em processo de formação de uma Instituição Federal de Educação Superior (IFES). Diante das múltiplas possibilidades optou-se pela investigação dos elementos que compõe prática da orientação da formação do profissional do pedagogo considerando os três modelos descritos por Torre (2006): a) crescimento pessoal; b) aprendizagem; c) o papel institucional. Os instrumentos utilizados na coleta dos dados foram: 1) observação participante em reuniões; 2) registros de campo; 3) depoimentos e 4) relatórios de estágio das acadêmicas. Concluímos que os modelos explicitados por Torre (2006) podem ser complementados pelas dimensões da prática pedagógica de Libâneo (1986): saber, saber ser e saber fazer. O modelo de orientação dos estágios é semelhante às experiências de Rogers (2002) e Abraham (1987), constituído pelos grupos de trabalho. Nas reuniões de orientação, com os relatos e estudo das situações da sala de aula, os componentes aos poucos verbalizavam as situações vividas bem como se refletia sobre as mesmas, realizando a tomada de consciência. Os resultados embora parciais, apontam que a confiança no potencial da capacidade criativa das pedagogas aprendizes é fundamental, pois observou-se que as estagiárias transferiam a mesma lógica formativa em sua prática no contexto de sala de aula. A lógica do modelo de orientação do professor universitário foi o mesmo aplicado na prática pedagógica da estagiária em sala de aula. O elemento chave desta concepção e prática de orientação é a pessoa, seja do educador que da criança. Ao considerar a potencialidade criativa de cada ser humano e ao mesmo tempo os mecanismos de defesa que se interpõe nos processos de aprendizagem dos alunos, em situações de estágio e, dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental pode-se construir uma prática pedagógica partindo da dimensão humana.

    MENDES, A. M. M.; GIORDANI, E. M. Formação de pedagogos: entre as estereotipias e as possibilidades criativas humanas. In: XXXIII CONGRESSO INTERAMERICANO DE PSICOLOGÍA, 2011, Medellín.